segunda-feira, 29 de junho de 2009

Druidismo


A visão tradicional mostra os druidas como sacerdotes, mas isso na verdade não é comprovado pelos textos clássicos, que os apresentam na qualidade de filósofos (embora presidissem cerimônias religiosas, o que pode soar conflitante).
Se levarmos em conta que o druidismo era uma religião natural, da terra, e não uma religião revelada (como o Islamismo ou o Cristianismo), os druidas assumem então o papel de diretores espirituais do ritual, conduzindo a realização dos ritos, e não de mediadores entre Deus e o homem.
Ao contrário da idéia corrente no mundo pós-Iluminismo sobre a linearidade da vida (nascemos, envelhecemos e morremos), no druidismo, como entre outras culturas da Antigüidade, a vida é um círculo ou uma espiral.
O druidismo procurava buscar o equilíbrio, ligando a vida pessoal à fonte espiritual presente na Natureza, e dessa forma reconhecia oito períodos ao longo do ano sendo quatro solares (masculinos) e quatro lunares (femininos), marcados por cerimônias religiosas especiais.
A sabedoria druídica era composta de um vasto número de versos aprendidos de cor e conta-se que eram necessários cerca de 20 anos para que se completasse o ciclo de estudos dos aspirantes a druidas. Pode ter havido um centro de ensino druídico na ilha de Anglesey (Ynis Mon, em galês), mas nada se sabe sobre o que era ensinado ali.
De sua literatura oral (cânticos sagrados, fórmulas mágicas e encantamentos) nada restou, sequer em tradução. Mesmo as lendas consideradas druídicas chegaram até nós através do prisma da interpretação cristã, o que torna difícil determinar o sentido original das mesmas.
As tradições que ainda existem do que poderiam ter sido suas práticas religiosas foram conservadas no meio rural e incluem a observância do Halloween, rituais de colheita, plantas e animais que trazem boa ou má sorte e coisas do gênero.
Todavia, mesmo tais tradições podem ter sido influenciadas pela cultura de povos vizinhos.
Fontes clássicas do Druidismo
A principal fonte clássica sobre os druidas é Júlio César, em sua obra De Bello Gallico (A Guerra da Gália).
Todavia, os comentários de César sobre os druidas mal enchem uma página e dão margem a inúmeras dúvidas, infelizmente não sanadas por outros autores clássicos (que escreveram ainda menos sobre o tema).
César fala sobre a organização e as funções da classe dos druidas (presidência dos ritos, pedagogos e juizes), a eleição do druida-mor, a reunião anual (conclave) na floresta de Carnutos, a isenção do serviço militar e a aprendizagem de longos poemas.
Afirma também que os druidas se interessavam em aprender astronomia e assuntos da natureza, e se recusavam terminantemente em colocar seus ensinamentos por escrito.
Outros autores clássicos, como Plínio e Cícero, também se referem ao interesse dos druidas pelo estudo dos astros e pela prática da adivinhação.
Tácito e Suetônio confirmam o interesse, mas nos apresentam os druidas como bárbaros cruéis e supersticiosos. Analisando o contexto histórico, T.D. Kendrick em sua obra The Druids, afirma que até a época do início do Império Romano, os druidas gozavam de ótima reputação; a partir daí, sua credibilidade desceu ladeira abaixo.
Peter Berresford Ellis, em El Espíritu del mundo celta, afirma que tal desprestígio se deveu muito mais a necessidade de justificativas para a conquista e dominação dos celtas do que por demérito dos druidas.
Certo mesmo é que a influência dos druidas deve ter sido considerável, pois três imperadores romanos tentaram extinguí-los por decreto como classe sacerdotal num prazo de 50 anos - sem sucesso. O primeiro foi Augusto, que impediu os druidas de obter a cidadania romana.
Em seguida, Tibério baixou um decreto proibindo os druidas de exercerem suas atividades e finalmente Cláudio, em 54 d.C., extinguiu a classe sacerdotal. Certo mesmo é que, 300 anos mais tarde, os druidas ainda continuavam a ser citados por autores como Ausonio, Amiano Marcelino e Cirilo de Alexandria, como uma classe social e religiosa de extrema importância e respeitabilidade.
Finalmente, embora muitos autores clássicos apresentem os druidas como "filósofos", colocando-os no mesmo nível dos pitagóricos e com elevados conhecimentos de astronomia, não existem provas concretas (ou mesmo vestigiais) de tal saber.
Até onde se sabe, o conhecimento que os druidas tinham dos astros e seus ciclos não ultrapassava o de povos similares em seu estágio de desenvolvimento. Mesmo que eles fossem herdeiros diretos da cultura megalítica que construiu Stonehenge, isso significaria apenas um conhecimento mais elaborado dos ciclos lunares e solares e não a sofisticação da astronomia praticada pelos babilônios e egípcios.
A comparação com os pitagóricos não implica necessariamente qualquer interesse concreto pela matemática, mas apenas pelo estudo das "ciências ocultas" (que era como os contemporâneos e posteriores aos pitagóricos encaravam as atividades dos mesmos).
Quanto a suposta crença dos druidas na metempsicose (ou transmigração das almas), ela não encontra respaldo nos ritos funerários celtas: eles faziam o corpo (ou as cinzas) ser acompanhado de armas e utensílios que lhe seriam úteis na vida pós-morte. Quem crê que vá precisar de seus bens no outro mundo, certamente não espera reencarnar neste.

Nenhum comentário:

Postar um comentário